ertencimento nesta história. Predomina-se uma vontade de se constituir realmente uma rede, mas a forma como o número cresce, muitas vezes acaba jogando contra uma certa identidade coletiva que se busca. Sendo realista, um grupo muito heterogêneo que deve buscar com sinceridade a identificações nas missões.
Alceu (do grupo Urucungos, Puítas e Quijengues) perguntou a minha idade. E depois da minha resposta ele disse, “então você é Ponto de Cultura a 24 anos”. Nessa fala, um grande banho de esimulo, é importante considerar que antes de tudo, cada um de nós que busca construir essa história é um pólo, e o reconhecimento deve vir como consequẽncia. Parando para pensar nisso, e em histórias como a de Lia de Itamaracá, que fez uma participação no palco da Economia Solidária, o que vem à mente é que o país deu passos muito grandes nos últimos anos, legitimando as pessoas a viverem seus sonhos e realidades, aumentando o potencial de construção de bases, núcleos, coletivos, associações e comunidades que giram em torno de culturas em comum; elas forma muito tempo negligenciadas ou ignoradas pela maior parte da população e na história do país, mas há uma crença de que nos últimos anos as coisas estão mudando.
Passando para a parte mais prática, foram realizados diversos Grupos de Trabalho, espalhados por todo o Centro Cultural Dragão do Mar. Os relatos e experiências de pessoas que participaram de diverentes encontros levaram a crer que neste início pouco se aprofundou nas questões, e faltou um pouco de organização para realmente se trabalhar com pessoas de experiências e contextos tão diferentes. Mas estes grupos seguem até o domingo, muitos tendo como pautas os editais públicos que estão abertos; provavelmente surgirão frutos mais maduros também.
Na Mostra Artística, a Praça Verde, que reuniu todas as atividades no dia anterior, acabou sendo quase um palco complementar, com um público mais esvaziado, na verdade espalhado pelos diversos outros lugares. Ao dar uma volta de cinco minutos, podia-se ver e sentir expressões culturais de todos os cantos do país, sem exagero, como: Congo, Côco, Afoxé, Baião, Maracatu, Ciranda, Samba, Jongo e muitas outras manifestações. Muitas delas fazem parte de Pontos de Cultura, e representam não só uma apresentação mas todo um trabalho de transformação social.

Curioso é que muitos dos grupos tiveram momentos quase únicos em sua história de apresentação nos moldes “tradicionais” de palco, com microfonação, luzes, etc. Quem já viu a manifestação em sua origem, é capaz até de se estranhar, mas ao mesmo tempo em que elas estão deslocadas de seu contexto origial, a força da crença, do gesto, do canto e a energia da música faz com que os espetáculos sejam sempre originais, contagiantes e propaguem boas energias para muitos que não terão a oportunidade de conhecer a matriz.
Entre muitas atrações, vale-se a pena destacar dois momentos da noite mais impactantes. O primeiro foi na apresentação de Jorge Mautner com o grupo pernambucano Maracatu Atômico, um projeto novo que em breve sairá em disco também. No auge da apresentação, novamente a organização pediu para que o show terminasse antes do combinado, e no momento de reclamação, o microfone de Mautner foi cortado, o que ampliou ainda mais o erro de se intervir em um momento como este. Na verdade fica a dúvida sobre a origem da culpa, mas para o público sempre é algo muito cruel quando se tem a sensação de que o espetáculo foi cortado desta maneira.
O outro momento (desta vez, somente positivo) foi a útlima apresentação da noite, da Orquestra Tambores de Aço da Casa de Cultura Tainã. Este grupo, que pertence à origem da idéia do programa Cultura Viva, quando a experiência iniciou em Campinas (SP), e possui um histórico muito importante nas ações ligadas à militância contra a descriminação racial, a utilização de ferramentas livres e a experimentação com percussão, que foi o mote da apresentação. No palco, instrumentos e músicos de diversas idades, compondo uma áurea muito bonita e sincera do momento em que estavam representando. Uma grande família unida, tendo a linha de frente comandada pelas crianças e adolescentes tocando o Steel Pan, instrumento percussivo/melódico, que dava o tom de músicas encantando a todos. Muitas versões de clássicos da música negra no país, explodindo na alma de todas as pessoas que saíram de suas cadeiras no Anfiteatro e chegaram bem perto para sentir o poder dos Tambores, dançar e se libertar. Como dizia a música: “hoje eu só quero que tudo termine bem...”