Mamelo Sound System: Sexta Feira, dez horas. A noite ainda estava esquentando. Capitão Rodrigo se ajoelha no palco e começa a pedir a tradicional benção para suas entidades sônicas...era o Mamelo Sound System no palco. O show começava com dois desafios: eles eram os primeiros representantes do “eixo” a tocarem no
festival e ainda tinham que sustentar o “corpo estranho” do hip hop em um festival tradicionalmente roqueiro. Pegaram um público que ainda chegava ao centro de eventos e faltou a presença de uma massa na beira do palco para responder a altura os já tradicionais pedidos de barulho que eles fazem. Pra quem já viu um show do Mamelo acompanhados do coletivo de arte Embolex, é inevitável não bater um saudosismo das projeções. Mas fez diferença a presença de Karina Buhr acompanhando na percussão, trazendo alguns timbres orgânicos ao afrofuturismo manipulado pelos djs M-Stereo e PG. Identidade nas palavras, expressão da visão urbana, conseguindo assimilar e desenvolver o conceito de ser
Primitivo do Futuro, música que não falta mais em nenhum show deles e que inclusive cita as diversas experiências que a banda vem tendo, como a passagem pela Rádio UFSCar.
No final, o show acabou sendo mais uma excelente porta de entrada para outros mundos e estabelecimento de contatos sinceros, já que o grupo marcou presença nos três dias de festival, mandando muito bem nas participações com o Contra Fluxo e com o Linha Dura também. Primeiro contato da rapaziada com as filosofias Fora do Eixo...quem sabe não é o início do contra ataque sendo armado no centro da selva de pedra.Diego de Moraes e o Sindicatto: Muito se fala hoje em dia sobre esse cuiabano radicado em Goiânia, que agora começa a circular pelos diversos
festivais, com suas músicas repletas de personalidade e atitude. O fato é que o rapaz consegue concentrar em si um excesso de atenção dos olhares, pelo fato de estar em performance, atuando o tempo inteiro enquanto está no palco. As músicas em geral são bastante pessoais e há uma busca por um surrealismo nas letras, e mesmo nas atitudes, acompanhado por uma banda bastante sintonizada com seus passos, mas que age como personagem secundário na farra que ele arma sob os holofotes. O lance, é que com o passar do show, tudo isso parece ser em excesso e causam um cansaço mesmo a quem se identifica com esse tipo de atitude e expressão. Talvez isso também seja fruto da falta de experimentação mais intensa na parte instrumental das músicas, que poderiam dialogar melhor com a proposta que se sente estar mais no cerne das canções e das idéias fora das linhas, das regras e dos padrões de comportamento das sociedades de agora e de antes.
MQN: É claro, que já sabíamos que o MQN é um dos maiores expoentes do rock
independente nacional...conseguiram estruturar em Goiânia um público fiel, aliado a um desenvolvimento de cena e mercado que não se restringe somente ao seu trabalho, mas a todo a um contexo, principalmente com a estruturação dos festivais, que também estão entre os maiores do país e da Monstro Discos por Fabrício Nobre, e agora presidente da Abrafin.
Mas por incrível que pareça, ainda não tínhamos visto a lenda viva que o MQN se torna no palco. Com uma apresentação realmente impressionante, foi um dos principais shows da noite de 6a feira. Sempre munido de uma latinha de cerveja na mão, o front man tem uma presença de palco muito forte, cativante, que chama todos a participarem do show e se torna
praticamente um ícone para os roqueiros que se acotovelavam em busca de espaço perto da banda. Talvez seja assim que eles encontrem ainda mais força para a pegada que é o show inteiro. Muito peso no ouvido de quem se apertava perto da grade ou no bate cabeça que estava rolando solto. Stoner rock.
Impressionante ver como os caras possuem público verdadeiro em qualquer lugar, e conseguiram criar novas lógicas na distribuição e na veiculação de sua música. Muitas pessoas sabiam cantar as últimas músicas lançadas esse ano pela lógica do Fuck Cd Sessions, onde as músicas são lançadas somente em mp3 e, se possível, em vinil. Realmente fizeram acontecer.
Pata de Elefante: Com seu segundo disco recém-lançado, a banda de Porto
Alegre já chega com ar de veterana no festival, principalmente por já ter percorrido bastante o circuito e estar mais do que acostumada a tocar nos grandes palcos do país. Uniformizados entre eles, os
caras cada vez mais ganham unidade na proposta do som, na apresentação e mesmo na estética visual e nos timbres utilizados. Fez falta alguns dos instrumentos utilizados nas músicas novas, mas na máxima de power trio, eles são concisos e alcançam momentos de virtuose na mudança das paisagens e climas que as músicas percorrem. Não é difícil de compará-los lado a lado do Macaco Bong entre as principais bandas que se dedicam ao rock instrumental, mas a apresentação perde fluência em alguns momentos, pelo alto nível de introspecção que os instrumentistas entram, e a sensação é que o show seria melhor apreciado se estivesse enm uma cadeira com estofado em um teatro. Falta o punch no palco para conseguir uma troca real na comunicação com a galera mesmo, se é que isso é buscado. A nós, cabe receber a energia do som com uma grande admiração.
Garage Fuzz: Mais de 15 anos de carreira, muita experiência acumulada na estrada e energia acumulada para explodir em seu show. Essa é a sensação de ver o Garage Fuzz entrar no palco. Ao ver uma das maiores referências de
música independente no país, tudo é impressionante. Da simplicidade expressiva do rock, aos momentos mais melódicos de uma raiva e agressividade bela, pois se fala de sentimentos, de vida, e história de quem acredita no que faz. Os caras já são praticamente uma escola para muitas bandas que nascem agora e almejam estar onde eles estão hoje, no palco sendo eles mesmos.
E isso faz a banda reunir os mais diverso tipo de pessoa perto do palco. Do artista experimental ao garoto metaleiro, do rapper ao roqueiro moderninho.
Se não fosse alguns pequenos problemas de ajustes do som no palco, seria um dos shows mais intensos...mas só de vê-los ali já representou muita coisa para todos nós.
Jumbo Elektro: Novamente Frito Sampler e companhia chegam a um festival
para armar o circo dançante e festivo que é o Jumbo Elektro. Momento de divisão entre o público. Os roqueiros mais ferrenhos fazem cara feia e buscam uma certa distância do palco, enquanto alguns fãs assíduos correm para perto.
É incrível ver como as canções ganham força em cada lugar distinto. O rock eletrificado, escrachado e as letras em inglês os fazem parecer saídos diretamente da cena indie de Londres.
As músicas

cairam muito bem com clima de inferninho que Hellcity ganhava, e o que predominou no final foi a descontração e o sentimento de liberdade entre os aqueles que cantaram, dançaram e se derreteram a cada refrão. E quando o público é quente, a banda ferve ainda mais, e traz mais energia para a interpretações das músicas de seu único disco. Ou seja, showzão, com direito a todos os gritinhos do vocalista, cenas inventivas de cada um dos personagens, com direito a arminhas de água, além das tradicionais chuvas de papéis brilhantes e do extintor de fumaça que choca e encanta a todos, como a banda é.
The Melt: Banda bastante significativa da cena cuiabana e que começa a circular por alguns festivais, o The Melt foi a penúltima banda a entrar na 6a a noite. Armados de ruídos transcendentais, os caras fizeram bastante barulho nos 10 primeiros minutos introdutórios, aglomerando uma boa quantidade de fãs que acompanham o trabalho da banda.
Concentração total, com a cabeça totalmente sintonizada, eles puderam começar o show com um sangue na veio que mistura rock mais clássico com garageira da boa. Muita sujeira nas linhas de guitarra e solos bem ensaiados, entre as vocalizações de letras psicodélicas em português e inglês. Show instigado e bem ensaiado, destacando a figura do front man Michael, que acaba chamando mais atenção por sua pegada forte e instigada, enquanto o resto da banda segura bem o instrumental e não deixa o clima cair em nenhum momento.
Do Amor: Uma das bandas que mais cresce sua popularidade na mídia especializada, o Do Amor tem apostado cada vez mais no brega para contagiar os seres apaixonados e amantes da música dançante. Letras bem humoradas e harmonias muito bem ensaiadas também ajudaram a conquistar o público que em geral não conhecia o som da rapaziada que veio
Rio de Janeiro, mas que aposto que gostaria de ter nascido em Belém do Pará.
Na verdade, o show poderia ter sido bem melhor se os próprios integrantes se organizassem melhor com o curto tempo que tinham para tocar e garantissem uma presença de palco mais concisa principalmente entre as músicas, mantendo com mais ênfase o bom humor que já está presente em seu trabalho. Além disso, apesar da apresentação cativar pelas melodias fáceis de se assimilar, e um astral muito bom que relembra os bailões de guitarrada, o show passou todo como uma coisa só, sem muito começo, meio e fim, reflexo da excessiva similaridade que cada canção possui.
Filomedusa: Um dos pontos que impressionou a todos os participantes do festival foi a direção de palco, com as trocas perfeitas entre cada show, que contava com a rapaziada do Macaco Bong, e com Saulinho, que também integra o Coletivo Catraia, de Rio Branco (AC). Mas, de uma hora para outra, o cara vestiu sua guitarra, e foi o principal destaque no show do Filomedusa, que tem como vocalista a figuraça Carol Freitas, além do moço Thiago Melo na bateria e de Daniel Zen no baixo - ele qu
e é fundador do festival Varadouro e atual secretario de cultura do Acre. Com seus integrantes em diversas faixas etárias, as referências são bem diversificadas, e o som, apesar de ter um certo peso e simplicidade rock, consegue ser delicado e agradável na construção harmônica e nas belas letras. Apontadas por muita gente como uma das bandas com maior potencial envolvida no circuito, o show só não deslanchou mais pelo nervosismo e falta de maior desenvoltura da front-woman. Mesmo assim, eles conseguem ser contagiantes em todo trabalho que fazem e são ótimos exemplos de multiplicadores locais de boas idéias e da boa música.
Linha Dura: Uma das maiores reflexões quando você digere mais de 10 shows por noite, por três dias seguidos, é como as bandas se adaptam ao formato do festival e aproveitam sua pouco mais de meia hora de show. Quem deu uma lição nesse aspecto foi a banda cuiabana Linha Dura, que é liderada pelo MC de mesmo codinome e ainda conta com Cayapy e Ynayã do Macaco Bong, além do baixista Ébinho Cardoso, e do Mc e DJ Taba. Linha começou o show mandando

um salve geral para as iniciativas fora do Eixo, como o Espaço Cubo, a Volume, a Central Única das Favelas e até mesmo os coletivos que estavam presentes no evento, e concentradíssimo, saiu destilando suas rimas, que concentram as vivências de um cuiabano tchapa e cruz que tem muita história. Muito ligado à política e ao movimento cultural da cidade, o cara sabe muito bem de onde veio e para onde vai.
Além disso, possui uma das melhores bandas de

hip hop que já se viu. Instrumental construído com muito groove, seguindo os samples e bases que agora saem de um laptop, substituindo o dj.
Depois de apresentar algumas músicas que estão em seu cd que estava sendo lançado no dia do show, ele foi recebendo alguns convidados no palco. De cara, ele intimou Rodrigo Brandão e a galera do Contra Fluxo para um freestyle que empolgou toda a rapaziada, que dançava bastante. Depois chamou um grafiterio, o Mc Carlos Medrado e uma banca do movimento hip hop de Cuiabá para marcarem presença, fazendo da coletividade e da união a marca da apresentação. Explosão em cada palavraa, na atitude, em tudo. Um dos melhores momentos da noite de sábado.
Cérebro Eletrônico: Sensação de déjavu. No palco, os mesmos cinco integrantes do Jumbo Elektro que se apresentara no dia anterior. Tatá Aeroplano, Dudu Tsuda, Gustavo Souza, Fernando Maranho e Isidoro Cobra um pouco menos fantasiados trazem agora o projeto que os uniu inicialmente antes de criarem a banda/piada. O Cérebro aposta em composições um pouco mais reflexivas e inventivas sobre o fazer música, sobre as vivências de artistas que parecem modernos e outras belas aleatoridades difíceis de se explicar. Não falta ironia, piada e é claro, muita descontração no palco também. O show que em sua maioria teve um bpm bem mais baixo que o do Jumbo, foi baseado nas canções do disco recém-lançado, e mostra um grupo mais voltado para o pop e a mpb com belos toques de psicodelia nos timbres e nas letras. Mas ora ou outra um riff, um grito, uma postura ou até mesmo uma batida nos faz enxergar a outra banda se apresentando. Por isso, o show fica no meio do caminho entre uma outra face criativa dos mesmos músicos e um lado complementar e similar que ganha apenas outra plataforma para ser exposto, como o palco ao lado.
Macaco Bong: Bruno Kayapy, Ynaiã Benthroldo e Ney Hugo. Três figuras muito
importante nessa história toda. Exaltando a máxima do Artista Igual Pedreiro, os dois primeiros deram o sangue coordenando a montagem dos palcos e o último foi o líder da parte de comunicação do Festival no portal Fora do Eixo. Isso fora do palco.
Quando sobem para o lugar onde as pessoas mais os conhecem, o Macaco Bong tira energia de lugares desconhecidos para os seres humanos comuns e explodem com seu som instrumental cheio de climas intensos, paisagens eróticas e improvisos sinceros que hipnotizam e fazem remexer os músculos de quem estiver pela frente. O show foi bom como sempre, com os caras muito expressivos na execução das músicas do disco recém lançado, sem poupar esforços em garantir o máximo de potência em cada nota, cada riff ou em cada ataque. O show só não foi melhor por algumas pequenas quebras no ritmo da performance, principalmente pelas pequenas tretas com a guitarra de Bruno, como a correia caindo e os momentos de afinação das cordas que já são quase sua marca registrada. O cara ainda se rendeu total ao feeling do momento e se sentou na frente do palco, respirando um pouco mais perto do calor humano do Centro de Eventos do Pantanal.
Mas a apresentação deixou um gostinho de quero mais, principalmente para quem tinha presenciado o fantástico pocket-show com mais de 1h30 de duração que eles fizeram na abertura do Congresso Fora do Eixo no Museu de Imagem e Som.
Hurtmold: Pouca gente conseguiu reunir forças para chegar até o show do
Hurtmold que finalizou a noite de sábado. Mesmo assim, alguns admiradores e curiosos se juntaram bem perto do palco para absorver a experiência que é ver eles ao vivo. Pra começar, apresentaram por uma das primeiras vezes um

a música nova, dissonante e cacofônica como as melhores abstrações que eles encontram. Os caras estavam bastante centrados e introspectivos como sempre, mas é assim que eles fazem ser o que são, uma das principais bandas experimentais do país. Então o lance é imergir tentar entender o processo criativo e o encadeamento das canções, que normalmente partem de células simples independentes, e vão sendo

sobrepostas paralelamente até criam texturas harmônicas que passam da beleza à aspereza dos sentimentos.
O corpo dos shows da banda, em geral, são parecidos, em uma mescla dos trabalhos mais recentes com algumas coisas que foram elegidas como "clássicas" com o passar tempo. Mesmo assim, quando menos se espera, o espectador já está sedado, anestesiado com os timbres e climas inventivos que sempre ganham novos ares quando executadas por eles. Finalizado o show, a rapaziada que sobreviveu de pé ainda ficou com vontade de mais...e, em um bis bem raro de se ver, eles mandaram um Concrete Jungle do Bob para finalizar no astral positivo, em parceria com os novos amigos que se juntaram aos instrumentos e dominaram o palco até o fim da música.
Revoltz: O show do Revoltz atraiu principalmente o público adolesc
ente para a frente do palco no Centro de Eventos do Pantanal, e não deixou a energia cair durante toda sua apresentação.
Rock and roll com pitadas de pop, e os marcantes vocais agudos do cantor e baixista Ricardo Kudla, além do backing feminino da tecladista Marcella Yoshida. Letras irônicas e engraçadas com uma simplicidade melódica que contagia. A banda, que é praticamente de casa também, já que a maioria dos integrantes vêm da região, esquentou o início da noite de domingo.
Fóssil: Com um dos shows mais comentados antes (e depois) da apresentação,
a rapaziada do Fóssil desembarcou em Hellcity diretamente de Fortaleza. Uma das bandas que demonstrou
maiores químicas no palco, os caras fizeram mais do que música...foi uma constante quebra a qualquer barreira que se poderia inventar para o som. Um dos shows mais alucinógenos para quem decidiu embarcar na viagem e entrega total que os músicos depositaram naquele momento. Não se sabe ao certo se eles mesmos tiveram consciência do que aconteceu ali, e talvez algumas pessoas não se recordem exatamente dessa pouco mais de meia hora em que foram abduzidas por duas guitarras, um baixo e bateria. Mas ainda é possível sentir alguns resquîcios das microfonias, ruídos e manipulações de efeitos em nossas mentes, que não são mais as mesmas depois dessa experiência.
Porcas Borboletas:
O Porcas já é uma das bandas de maior destaque no
Circuito Fora do Eixo. Historicamente ligados ao Festival Jambolada e ao Coletivo Goma de Uberlândia (MG), eles possuem um bom público na cena e já passaram várias vezes por Cuiabá. Quando o show estava por começar, grande parte das pessoas se dirigiu para mais perto do palco 1, para ver o que os figuras iriam aprontar dessa vez. Completamente à vontade no palco, eles fizeram a sua meia hora parecer mais longa do que as outras bandas. O show foi baseado principalmente em músicas já conhecidas do primeiro disco, Um Carinho com os Dentes, mas eles também adiantaram algumas novidades que aparecerão muito em breve no segundo álbum. Mesmo para quem já assistiu os caras recentemente, a sensação é de envolvimento com o show o tempo inteiro. Os caras dão um banho de performance e personalidade no palco,
inventam bons personagens nas interpretações de cada canção e conseguem revezar o foco de atenção em cada música, ressignificando o rock escrachado com atitude política, e realizando uma construção bem original na estrutura de composição instrumental e vocal, sem falar nas letras, que são o principal destaque. Difícil não sair de bom humor, ficar com algumas frases soltas na cabeça e assobiar algumas melodias depois do show. Foi assim que arrancaram um dos poucos pedidos de bis da galera que ansiava por ainda mais músicas que não couberam no show.
Curumin: O festival já caminhava para seu fim e o sentimento de sucesso geral
já pairava no ar. Impossível não entrar no palco em alto astral. "Siriri, Cururu, agora Curumin", como o próprio músico brincou ao entrar, citando a apresentação de música tradicional cuiabana que tinha rolado há pouco. E se dá o início do show com Salto no Vácuo com Joelhada, que realmente é perfeita. Os músicos ligam suas MPC’s e ao repetir os compassos do início da música e controlar a entrada de cada elemento, deixam tempo para terminar os ajustes do som no palco e apresentar ao público o universo de tibres e ritmos que vão comandar os próximos minutos. O rapaz estava sempre de sorriso no rosto, com o pulso leve e muita idéia na cabeça, e se comunicou muito com a galera que logo se entregou aos grooves emanados pelos Aypins, a banda que o acompanha. Uma palavra/conceito que é trabalhada com muito significado é
Compacto - também nome de uma das músicas que são mais belas de se escutar ao vivo. Um trio conciso, que possui muito peso e consegue criar ótimos climas, misturando diversas vertentes da black music, com o pensamento no mundo e o coração no Brasil. No baixo, o tarimbado Lucas Martins garante a ginga para a música fluir, enquanto Loko Sossa solta ataques de guitarrista, percussionista, músico de sopro e vocalista, tudo com seu brinquedinho, é claro.Classe A.
Pena que alguns desajustes na mixagem e retorno do palco fizeram Curumin perder um pouco a concentração em alguns momentos como vocalista, o que ele contornou com muita criatividade em seus improvisos. Assim, nascem e se desenvolvem mensagens políticas, reflexões sobre os sentimentos e positividades emanadas e bem captadas pelo público, que se soltou ainda mais quando ele empunhou o cavaquinho para tocar alguns sons de seu primeiro disco. Momento bueníssimo de confluências no festival...penso que até o roqueiro mais convicto deu um remelexo com o quadril.
Contra Fluxo: Para quem já acompanha o trabalho do Contra Fluxo sabe que as letras das músicas trazem reflexões sobre o fazer rap e a importância da coletividade nesse processo. O grupo traz na sua presença de palco a materialização dessa proposta. Pressão vocal garantida, os Mcs Munhoz, Ogi, Dejavu e Mascote cantam em coro quase que todas as estrofes de todas as músicas e as interpretam com uma sinceridade e bom humor que contagiam sem dó. E a base instrumental realmente impressiona com a virtuose da Sinfônica Djs, a dupla formada pelos DJs Willian e Big Eddie, munidos de Três Toca Discos e um computador.
Mãos pra cima e a galera balançando em um show no qual o grupo desbravou muito bem um território onde ainda não havia pisado. Surpreendente até para nós que já sacamos o som, mas que ainda não haviamos vivido a apresentação. Ainda empolgados com tudo isso, a galera mandou muito bem na participação na Web Rádio Calango no programa do Hip Hop Fora do Eixo apresentado por Fernanda Quevedo. O corpo do rap já não era mais estranho a nada...a atitude e o espírito de união para o bem prevaleceram facilmente.
Cabruera: Sem dúvida o melhor show do Festival na humilde opinião destes marcianos que vos falam. Demorou, é verdade, mas tivemos um contato real com o som e todo o astral que envolve os figuras. Completando 10 anos de estrada e em vias de lançar seu 4o álbum, foi com muita maturidade, experiência e instiga que o Cabruêra entrou levitando no palco, e daí foi só voar pra onde parecia impossível para quem está só acostumado com o acontecimentos reais. Arthur e toda a rapaziada que vem de Campina Grande (PB) estavam iluminados pelo astral do momento, reenergizados pela Chapada dos Guimarâes e fizeram um show emocionante para um público que a princípio estava disperso, mas que depois foi tragado para perto do palco, esquentou e se maravilhou com cada cena do espetáculo.
O vocalista chamou quem ainda tinha garganta para cantar suas canções, que em geral começam com fortes pitadas regionalistas (cocô, ciranda, etc) e passam para grooves eletrificados a cada compasso, a cada movimento. A energia e conexão do público aumentava e o feedback naturalmente foi rolando, as emoções transbordando. Tudo cresceu demais, insanamente, até que Arthur pulou, girou e se jogou pra baixo do palco através das grades pra se juntar com quem estava lá naquele momento. Festa, celebração, vida pura, intensa, momento de catarse.
Mas por incrível que pareça, esse ainda não foi o ápice do show. Ca-ne-ta es-fe-reo-grá-fi-ca. Sim, essa foi a grande sensação da noite. Com auxílio do utensílio mais comum na vida de qualquer cidadão, Arthur tocou um violão de cordas de aço, tirando um timbre inacreditável, algo como uma rabeca eletrificada, rasgada e com muito sustain, desenrolou solos e frases extremamente criativas, potencializando o clima de ilusão para o que aconteceu ali. E deve ser mesmo, pois não se encontram imagens registradas desses momentos.
Vanguart: A cada show que passa, o Vanguart aparece mais redondo, mais
harmônico e mais instigante de ser ver no palco. Talvez pelo reflexo da quantidade de shows que os caras estão fazendo pelo país, ou pelo calor com que o público sempre o recebe. Mesmo morando em Sampa, tocar no Calango é tocar em casa para os caras, já que foi em Cuiabá que eles nasceram e cresceram. Imagine o quanto tudo ferveu em Hellcity.
Eles começaram com a belíssima Los Chicos de Ayer, e com a resposta imediata de que um público fiel estava ali, não foi difícil para que eles ficassem super à vontade, e, tirando onda, propuseram algumas intervenções entre suas músicas, e durante elas, como quando um camarada foi chamado
para dançar Hey Silver.
Apesar de ser o último show do festival, bastante gente se concentrou na frente do palco, em um dos momentos mais cheios da noite, e quem ainda tinha voz conseguiu cantar alguns de seus hits, e ficar bem atento para as três novas canções que eles tocaram e que em breve estarão virtualmente disponíveis.
Não tinha jeito melhor de finalizar o festival. Não houve quem não se saiu contemplado, satisfeito, emocionado, e instigado para ver, fazer e propagar mais tudo isso.
Nossas mais sinceras impressões
Felipe Silva e Jovem Palerosi